terça-feira, 26 de outubro de 2010

Eu tô te explicando pra te confundir
Tô te confundindo pra te esclarecer


Tô – Zélia Duncan

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

se até o dia vinte ele me ligar, é porque vai rolar
se até quinta-feira não chover, passa a ser provável
se até seis da tarde o comercial passar duas vezes
é sinal de que tudo vai acontecer como o planejado
mulher adora dar um prazo para o imponderável

M.M.

domingo, 24 de outubro de 2010

Pessoas anjo

Um anjo é uma pessoa que Deus põe na tua vida na hora certa. Você não sabe daonde eles surgem, nem como chegou até você exatamente naquele momento em que você mais precisava, mas tenha certeza, não foi por acaso. Quando tudo que você espera é uma resposta, uma ajuda, uma luz, eles aparecem das maneiras mais inusitadas possíveis.

Pode ser um estranho que de repente se aproxima, um conhecido que sorrateiramente passa a fazer parte da tua rotina, um amigo que estava distante e ressurge do nada, um novo amigo, um parente, um irmão. Alguém que vem com a palavra exata, na hora em que você mais precisava ouvir ela.

Tenho a convicção que essa é a maneira que Deus tem agir na nossa vida, mostrando o melhor caminho, ajudando a enxergar as coisas. Muitas vezes não queremos admitir que estamos errados e alguém tem que nos falar isso com todas as letras, fazer-nos pensar a respeito da maneira como estamos agindo e isso nem sempre é fácil.

Pessoas que são como anjos nos alegram, nos confortam, mas também podem nos causar alguma dor, mas isso não é proposital. Se a verdade incomodar, é porque era necessário ser ouvida para evitar um sofrimento posterior. Também não é fácil decidir se ela deve ser revelada ou não, isso requer coragem e devemos gostar muito de alguém pra isso.

Um anjo surge do nada, alguns ficam um tempo presente, cumprem sua missão e depois se vão, deixando boas lembranças. Outros permanecem, e com o passar dos dias ganham mais importância na nossa vida, conquistando mais e mais nossa confiança. Anjos Deus manda pra perto da gente para nos cuidar e com toda a certeza do mundo você deve ter algum por perto nesse momento, pode chamá-lo de amigo.

D.M.










sexta-feira, 22 de outubro de 2010

pensei com carinho ontem em ti

de uma maneira à toa e despretensiosa
me deu uma vontade de te dizer como um dia tu me fez bem
como eu achava divertido conversar contigo
até me deu uma saudade pequena

ontem pensei em ti
de um jeito tão inocente
que deu vontade de voltar no tempo
quando eu dizia que me sentia protegida no teu abraço
que tinha vontade de ficar pertinho
e dizia sem pensar nas conseqüências das palavras
quando meus impulsos não eram vigiados, tudo muito natural

por um instante tu me veio a mente
e foi um momento tão bom
de sensação de dias bem vividos, alegres, intensos
onde falar rapidinho contigo em dias corridos de provas eram normais


ontem lembrar dos nossos medos me fez bem
sinal de que um dia houve reciprocidade, de qualquer coisa que fosse
ontem lembrei de ti como há muito não lembrava
das histórias, dos toques, das mensagens
das risadas, do teu sorriso e do teu jeito quando tava comigo


pensei
e isso se manifestou através de um sorriso sincero,
um toque de madrugada no teu celular como há muito não fazia antes
e nessas palavras, disso tudo que eu queria te dizer
que posso resumir num sim, foi bom te conhecer

 
D.M.

=D yes, for you.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Carta Extraviada

Não sei por onde começar esta carta que já nasce atrasada, pensamos sempre que temos muito a dizer mas as palavras são pouco amistosas, onde encontrá-las agora, às três e dez de uma madrugada em que me encontro insone e pensando mais uma vez em você?

Você esperou por estas palavras por muitos meses, na esperança de que elas aliviariam a dor do seu coração, mas elas não vieram porque estavam ocupadas vigiando meus impulsos, me impedindo de me abrir, e minha própria dor lhe pareceu desatenção, eu que não durmo de tanta paixão congestionada, de tanto desejo represado, de tão só que estou.

Meus motivos sempre lhe pareceram egoístas, e se eu lhe disser que o descaso aparente foi na verdade uma atitude consciente para preservar você, me chamarás de altruísta e não sairemos do mesmo lugar.

Eu errei por não permitir que você me oferecesse seu afeto, eu errei ao sobre valorizar um risco imaginário, eu errei por achar que existem amores menores e maiores, avaliados pelo tempo investido, pela contagem dos beijos, pelas ausências sentidas, por tudo isto fui conduzido a um erro de cálculo.

Não te peço nada além de compreensão, e esta carta nem era para pedir, mas para doar, eu que sempre me achei bom nessas coisas, o voluntário da paz, o boa-gente oficial da minha turma. Mas peço: lembre de mim como alguém que alcançou a mesma medida do seu sentimento, a mesma profundidade das suas dúvidas, o mesmo embaraço diante da novidade, o mesmo cansaço da luta, a mesma saudade.

A carta vem tarde e redigida com palavras covardes, as corajosas repousam pois se imaginam já ditas e escritas, valentes foram as palavras do início, as desbravadoras, as que ultrapassaram limites, quando nós dois ainda não sabíamos do que elas eram capazes, palavras audazes, febris.

Pela enormidade de tempo que temos pela frente em que não nos veremos mais, não nos tocaremos ou ouviremos a voz um do outro, pela quantidade de dias em que conduzirás tua vida longe de mim e eu de ti, pela imensidão da nos descrença, pela perseverança da nossa solidão, pelos nãos todos que te falei, pelo pouco que houve de sim, acredita: te amei além do possível, não te amei menos que a mim.
 
 
 
M.M.
 
 
 













terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Cartão

Eu tinha dezessete anos e era louca por um cara com quem trocava olhares, não mais que isso. Ele era o legítimo "muita areia pro meu caminhão" e jamais acreditei que pudesse vir a se interessar por mim, o que me deixava ainda mais apaixonada, claro. Mulher adora um amor impossível.

Então chegou o dia do meu aniversário. No final da manhã eu estava em casa, contando os minutos para uma festa que daria à noite, quando a empregada apareceu com um cartão nas mãos, dizendo que o zelador o tinha encontrado embaixo da porta do prédio. Abri e fiquei azul, verde, laranja: era dele! Corri para o telefone e liguei para a minha melhor amiga. "Que trote bobo, você quase me mata de susto, pensa que não sei que foi você que escreveu o cartão?" Ela jurou por todos os santos que não. Liguei para outra amiga. "A letra é igual a sua, eu sei que foi você!" Não tinha sido. Liguei para outra: "Você acha que eu vou acreditar que um cara lindo que nunca me disse bom dia veio até aqui largar um cartão amoroso desses?" Ela me recomendou terapia. bom, diante de tantas negativas, só me restou pensar: "Outra hora eu descubro quem é que está tirando uma comigo". E esqueci o assunto.

Semanas depois estava caminhando na rua quando encontrei o dito cujo. Ele resmungou um oi, eu devolvi outro oi, e então ele perguntou se eu havia recebido o cartão de aniversário. Minha pressão caiu, minhas pernas fraquejaram,eu só pensava: mas que idiota eu fui! O que iria responder? "Recebi, mas jamais passaria pela minha cabeça que um homem espetacular como você, que pode ter a mulher que escolher, fosse entrar numa papelaria, comprar um cartão, escrever um texto caprichado, depois descobrir meu endereço e então pegar o carro, ir até a minha rua, colocar o envelope embaixo da porta feito um ladrão, e aí voltar para casa e aguardar meu telefonema. Olhe bem pra mim, eu não mereço tanto empenho." Respondi: "Que cartão?" Ele soltou um "deixa pra lá" e foi embora se sentindo o mais esnobado dos homens. E assim terminou uma linda história de amor que nunca começou. Anos depois nos encontramos casualmente e tivemos um rapidíssimo affair, mas aí já não éramos os mesmos, não havia clima, ficamos juntos apenas para ver como teria sido se. Vimos. E não escutamos sinos, não fomos flechados pelo Cupido. Cada um voltou para a sua vida e nunca mais tivemos notícia um do outro.

Contei essa história para um amigo outro dia e ele comentou que conhecia outras mulheres assim. Epa, assim como? Ora, assim medrosa, desconfiada, temendo pagar micos diante da vulnerabilidade que toda paixão provoca. Ele estava certo. Era assim mesmo que eu me sentia aos dezessete anos: medrosa e incapaz de levar um grande amor adiante. Quando recebi o tal cartão, deveria ter ligado imediatamente para o meu príncipe encantado para agradecer e convidá-lo para a festa. E se ele tivesse dito: "Que cartão?" Eu responderia: "Deixa pra lá, mas venha à festa assim mesmo". E então eu assumiria as conseqüências, não importa quais fossem.

O nomezinho disso: vida. É sempre uma incógnita, portanto não vale a pena tentar fugir das decepções ou dos êxtases, eles nos assaltarão onde estivermos. Se você for uma garota boba como eu fui, acorde. Ninguém é muita areia pra ninguém. Pessoas aparentemente especiais se apaixonam por outras aparentemente banais e isso não é um trote, não é uma pegadinha, não é nada além do que é: um inesperado presente da vida, que todos nós merecemos.

Martha Medeiros - Doidas e Santas
 
(ainda comentarei sobre as duas últimas frases, haha muuuito a dizer, mas outra hora)
 







segunda-feira, 18 de outubro de 2010

por aí são tantas, existem milhares
e cada uma delas com suas peculiniaridades
e olha todas, e não sabe o que quer
na noite com várias,
e na manhã seguinte a solidão continua
não é nelas que tu pensa
não é elas que você quer perto
não é com elas que você conversa
não é delas que espera uma ligação
e nenhuma delas te faz rir das suas loucuras como eu
algumas podem parecer comigo
ter meu cabelo, meu sorriso,
mas não meu olhar, não meu caráter
muitas mulheres, mil jeitos,
várias bocas, e muito desejo, mas...
nenhuma era eu.

D.M.
(é, nenhuma.)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Será que aquela pessoa que tinha exatamente os mesmos medos que os meus, numa reciprocidade que nunca vi antes igual, foi uma mentira o tempo inteiro? Será que a vontade de ficar perto, onde só isso já nos faria felizes era outra inverdade? O carinho, a sinceridade, a transparência, o poder falar tudo sem medo, o respeito enorme que tu sempre teves por mim, as conversas, o querer olho no olho, a confiança, o cuidado... será que todas essas coisas me conduziram a um erro de cálculo? Hoje uso a razão, o sentimento descansa em paz.

(fragmento de uma carta por aí) D.M.

Fidelidade e Lealdade

Pra mim são duas palavras muito distintas, as quais muita gente se perde no significado delas.

Somos fiéis por opção, somos leais por caráter. Ninguém aprende a ser leal, ou a pessoa é, ou não é. A fidelidade muitas vezes é uma coisa imposta, e nas outras você se propõe a agir assim por uma situação, um compromisso, em respeito a alguém. A lealdade é mais do que isso, é mais do que respeito, você honra sua palavra ao ser leal.

Quando você é fiel trata de deixar de lado outras coisas, outras pessoas, a ser forte e comandar os seus sentimentos, mesmo que seu desejo seja enorme, você os controla. Se você é leal, isso não é necessário, pois a pessoa age assim por querer, sem se sentir lesada e nem perdendo algo, e sim valorizando aquilo que tem mais ainda.

Na fidelidade somos exigidos ou exigimos algo de alguém, mas a lealdade é retribuída, é doada, sem esperar nada em troca. A fidelidade tem um quê de posse, de querer só pra si, a lealdade confia, vai além disso, pois quer ver e fazer a pessoa feliz para assim, dessa maneira calma e verdadeira, ser feliz também.

D.M.

(pra ti João =D
pela sábia escolha do tema)






O Nível de Significância de cada um

Quinta-feira à noite, aula de estatística, professor Florindo. Olho para o quadro e observo aquelas fórmulas todas pensando no porque existem tantas coisas e onde ocuparemos todas elas. Meu pensamento é interrompido pela explicação do professor, matéria nova, preste atenção por favor!

E lá vem ele falando de nível de significância. É cada coisa nessa estatística que eu considero meio loucura, mas enfim, cada coisa com sua aplicabilidade. E eu ali prestando atenção e pronto! É isso! Achei relação dessa matéria com a nossa vida! Ele falava “Quanto mais raro um valor a ser obtido, mais significante ele é, sendo assim, tem mais valor”.

É isso aí Florindão! Você conseguiu me explicar matematicamente uma coisa que eu sempre pensei, mas que somente hoje pude perceber a lógica toda da coisa. Esse nível de significância na estatística são valores muito pequenos, e significam a probabilidade de um valor ocorrer.

Já na minha co-relação com a vida real esse mesmo nível é a raridade, a dificuldade que eu considero suficientemente pequena para qualquer coisa valer a pena. Pra mim uma pessoa ter caráter! Ser sincera, ser transparente e verdadeira. Ter caráter é agir da mesma maneira que fala, não se contradizer, ter seus valores sólidos e convictos. Uma pessoa assim vale MUITO A PENA ter por perto, ter sempre junto, ter pra sempre. Mas, como disse, são raras. Tudo isso pode parecer loucura, e é um pouco mesmo, só que não deixa de ter um sentido concreto. E você, já estabeleceu qual o seu nível de significância?

D.M.








Esperar perder

Nunca estamos realmente contente com o que temos nas mãos. Sempre escuto me falarem isso e começo a concordar profundamente com essas palavras.

Pense, você está bem, nada te afeta, tua saúde está em perfeito estado e você dá o mínimo para isso? Bem capaz! Você só percebe o quanto é bom estar assim quando se encontra de cama por causa de uma gripe, com um pé quebrado que te dificulta a locomação ou coisas do gênero, quando está bem, não está nem aí.

E porque no amor a coisa costuma funcionar com a mesma lógica? Porque muitas pessoas esperam perder a outra para enfim se dar conta de que amavam mesmo e o quanto a ausência da outra a incomoda? Bom, se você tiver a resposta pra isso, aguardo ansiosamente para saber.

O que tenho são hipóteses. A primeira é que as pessoas se acomodam. Quando tem a pessoa que gostam por perto com o passar do tempo já não olham mais para ela da mesma forma, ou você nunca ouviu aquela história de que quando  os namoros  é costume ao reencontrar a ex com outro achar que ela estava muito mais alegre,  atraente, etc e etc? É, isso se repete sempre, é um ciclo que não muda.

Então as pessoas terminam e só aí passam a enxergar todas as qualidades que a outra pessoa sempre teve, mas que elas deixaram de perceber. E ainda as aumentam de forma gigantesca. Aí começa o sofrimento. Porque não dá certo se ela era tão legal? Tão querida, tão inteligente, tão carinhosa, tão, tão, tão... e por aí vai. O problema meu amigo é que você esperou terminar um relacionamento para se dar conta de tudo isso. E isso acontece não só com você, pode ter certeza, mas, o fato do arrependimento ter batido não garante que você terá a pessoa de volta.


D.M.

Mas dirás assim, por exemplo, como você sabe, sim você sabe, a gente, as pessoas, infelizmente têm, temos, essa coisa, emoções, mas te deténs, infelizmente? O outro talvez perguntaria por que infelizmente? Então dirás rápido, para não desviar-te demasiado do que estabeleceste, qualquer coisa como seria bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas as pessoas, têm, temos - emoções. Meditarias: as pessoas falam coisas, e por detrás do que falam há o que sentem, e por detrás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra...

Caio Fernando Abreu, in Morangos Mofados

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O sofrimento é opcional

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional...

Carlos Drummond de Andrade










quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quando uma etapa chega ao fim

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.


Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te : “Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”

Fernando Pessoa

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás. Não olhava, pois, e, pois não ficava. Completo, partiu.

Desistir não é nobre. E arduamente, não desistimos.

E assim não saberemos nunca se por vontade ou por orgulho, não saberemos se sonhos ou teimosias, não desistiremos mesmo que não seja aquilo que realmente queríamos.
 
 
Caio Fernando Abreu
E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrário: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda.

Caio Fernando Abreu